Aumento no consumo de smartphones provoca mudanças nas redações



Pesquisa revela que quase 70% dos brasileiros utilizam dispositivos móveis para ler notícias e este novo hábito provoca mudanças na forma como os jornais geram e disponibilizam seu conteúdo

Por Andrea Bessa

Já imaginou como seria a vida sem o uso do telefone celular? Já tentou, ainda que por algumas horas, deixar de lado o aparelhinho que o conecta ao mundo - a qualquer hora e em qualquer lugar? Não é preciso muita criatividade para se chegar à conclusão de que isso dificultaria muito nosso dia a dia, afinal tarefas simples do cotidiano como pedir comida, chamar um táxi, assistir televisão, ouvir música, falar com amigos, checar e-mails, fazer compras ou ver redes sociais são cada vez mais realizadas através dos telefones móveis.

De acordo com dados divulgados pela 28ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), até o final deste ano o Brasil terá um smartphone em uso por habitante. Em apenas 4 anos o número de usuários deste tipo de aparelho aumentou 3,5 vezes no país, passando de 14% em 2012 para 62% em 2016. A tendência é global, visto que neste mesmo período os números ao redor do mundo subiram de 33,3% para 70%.

Apesar de ainda ser considerada ruim, a qualidade da banda larga nacional tem melhorado para atender a demanda crescente, especialmente no que se refere à banda móvel 4G. Segundo estudos da consultoria Teleco para a 5G Americas, os acessos de banda larga móvel representarão 91% das linhas disponíveis no mercado em 2019 e desde o ano passado o brasileiro passou a usar mais o telefone celular do que o computador para acessar a internet.


Novo ambiente

O que os números atestam é algo que já percebemos na vida real: o comportamento e a intensidade no uso da telefonia móvel avança de modo irreversível, estabelecendo novas formas de relacionamento e consumo. Hoje em dia para uma empresa ou instituição atingir seu público é fundamental que esteja presente no universo digital - e na telinha do celular, claro.

No meio das notícias não é diferente. O Digital News Report 2017, estudo realizado pelo Reuters Institute em parceria com a Universidade de Oxford revela que 69% dos brasileiros usam dispositivos móveis para acompanhar notícias, sendo que 23% usam o telefone celular como principal ferramenta para se manter bem informado. 

E não são apenas os sites dos jornais que alimentam estes leitores. Mídias independentes, portais colaborativos, blogs e redes sociais estão entre os canais mais utilizados, cujo crescimento crescente tem gerado discussões e levantado algumas polêmicas sobre a importância de um conteúdo noticioso de qualidade.

Ainda durante seu estudo, o Digital News Report 2017 ouviu 70 mil pessoas de 36 países e mostrou que, apesar de 54% dos entrevistados usarem as redes sociais como fonte de notícias, apenas 24% acredita que haja um trabalho criterioso na divulgação, distinguindo fatos de ficção. Outros indicadores utilizados reforçam a queda na confiança dos leitores em notícias divulgadas apenas por mídias sociais, graças às ocorrências cada vez mais frequentes das fake news. Em paralelo, o consumo de notícias online nos sites oficiais de jornais e em serviços pagos só aumenta. 


Oportunidade de negócio

A enxurrada de informações nascida com a popularização da internet e seu consumo acelerado pareciam, a princípio, um problema para os veículos tradicionais. Entretanto, agora, revelam-se como sendo uma oportunidade capaz de trazer novo fôlego ao jornalismo.

Ao aumentar a procura por fontes de informações confiáveis, aumenta também a responsabilidade dos veículos estarem presentes e ativos no meio digital. A preocupação editorial em levantar dados, analisar informações, investigar conteúdo e correr atrás dos detalhes produz materiais mais relevantes, profundos e de melhor qualidade - um diferencial que dá mais credibilidade ao veículo e atrai o leitor, que tende a se comprometer e voltar ao mesmo portal.

Reflexo dessa tendência é que os jornais que têm oferecido conteúdo com alta credibilidade e, de quebra, alguma exclusividade (não entregam tudo de uma só vez a quem acessar) estão tendo mais assinaturas e investimento comercial.


Tecnologia como diferencial

Já está mais do que evidente que estar presente nos canais digitais é uma obrigação e uma boa oportunidade para os jornais. Entretanto, atrair a atenção do usuário neste novo campo de disputa requer bons conhecimentos sobre as regras deste ambiente - desde como se apresentar até qual linguagem adotar. 

Emmanuel Ferreira, diretor da Mundiware - empresa especializada em tecnologia editorial para jornais - conhece bastante esta nova realidade. “O consumo de notícias pela plataforma mobile representa pelo menos 60% da audiência em nossos clientes, em alguns casos ultrapassa os 70%. Por isso criamos funcionalidades exclusivas e oferecemos todos os recursos necessários para propagar o conteúdo com a maior facilidade possível e no formato adequado exigido pelas empresas de divulgação, como o Instant Article do Facebook e o Google AMP”.  

A adoção de sistemas flexíveis capazes de organizar conteúdos de acordo com os fluxos de trabalho e divulgá-los no formato exigido por cada canal são um diferencial que influencia positivamente no resultado. No caso do acesso via smartphone, isso requer alguns ajustes que fazem a diferença na hora de publicar ou consumir notícias.

A plataforma Elite CS, sistema editorial para controle e gerenciamento de redação, disponibiliza recursos específicos que adaptam automaticamente o conteúdo para cada plataforma. Por exemplo, uma imagem que no computador teria uma largura X ou Y,  no mobile a mesma imagem é gerada com dimensões menores para não consumir muito recurso de internet do leitor.  Outras funcionalidades são a adoção de design responsivo, capaz de se adaptar a diferente telas reorganizando conteúdo de maneira estratégica para melhorar a leitura; e a criação de portais independentes para mobile, com sistemas de carregamento mais leves que os utilizados em desktop.

“A maneira como estes recursos serão utilizados fica sempre a critério do cliente. Nossa obrigação é oferecer o maior leque possível de soluções para que o veículo adapte-se a quaisquer ambientes sem perda na qualidade do conteúdo e de modo a atrair os leitores que estão cada dia mais presentes no meio digital, inclusive através de seus telefones celulares”, afirma Emmanuel.